terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ela vai me dar tudo...

Quando escolhi cursar Geografia, optei pela modalidade de bacharel, imaginei que viveria o mais difícil, o mercado para essa área é pequeno, mesmo tendo hoje a certeza de que o mundo precisa de mais Geógrafos, mesmo assim insisti, pois é compreendendo o lugar em que vivemos e as influências que sofremos de todos os elementos a nossa volta que nossos passos seriam certeiros, ou próximos disso. Nesse momento compreendo que as misérias, doenças, crises econômicas, desigualdades sociais, preconceitos, racismos, são sim, produtos de um mundo que não conhece o espaço em que vive, sabe, como na guerra, precisamos conhecer bem nosso inimigo, para saber cada um de seus passos, fazendo jogadas estratégicas, como no xadrez, considero que conhecer nossa geografia é ponto vital para nossa existência. Hoje me sinto infeliz por não conhecer meu Estado inteiro, cada rua, bairro, história, monumento, municípios, lideres, e tantas outras coisas e gentes, entendendo que isso deveria fazer parte de nós como pessoas. Nossa identidade só passa a ser clara quando encaixamos os elementos do nosso espaço em nossa vida, mas ao contrario disso, importamos a fala, as roupas, os sonhos, a aparencia fisica, enfim a cultura de outros lugares, e passamos a conhecer muito mais um espaço onde nunca estivemos do que nosso próprio lugar de vivencia, claro que identificar-se com a cultura de outros países é normal (eu assim como muitos, sonho em conhecer Londres desde pequena, não sei como essa vontade surgiu dentro de mim, mas está aqui, nunca consegui tira - lá, porém há um desejo muito maior, que é o de conhecer meu próprio país, e a Londres do sonho de criança seria a estrela da árvore de natal), mas querer desconhecer a nossa própria cultura é como desejar não saber uma parte de si mesmo, digo, só poderíamos julgar os milhares de eventos que ocorrem em nosso país se não nos esquecêssemos de nossas raízes, ou se ao menos as conhecêssemos um pouco. Ao escrever sobre isso, todos os meus sentidos apontam para a Geografia, sofri muito no inicio do curso com as criticas e a decadência da faculdade, mas aos poucos fui descobrindo que esta ciência tem tudo a ver comigo, toda minha infância cresci cercada de elementos geográficos, laços com o interior, identidade com campo (este bem mais) e cidade, localização, costumes de família, política, canção, poesia (lembro de que me deitei muitas vezes no chão da sala com os braços abertos, em uma das mãos segurava um livro de poemas, acho que era Ricardo Reis, não me lembro bem, enquanto não havia ninguém em casa sonhava com tudo o que lia, sonhava em ser poetisa, acredita), simplicidade, natureza, preconceitos etc, tudo isso vi de perto, essa sou eu, buscando respostas para perguntas que não estão no mundo lá fora, estão dentro de mim, num mundo que não conheço tão bem, mas que é o que me projeta para o que realmente posso e sei fazer.
Comecei falando de Geografia pra dizer que apreendi a amar esse curso, e que um sonho pode sim ser gerado mediante inúmeras forças contrarias, forças essas que muitas vezes emanam de nós mesmos e outras que vem dos outros, para alguns como eu, primeiro se faz o curso depois se ama, outros primeiro amam e depois cursam. Não há um caminho único que vai dizer como, onde de que forma vamos nos satisfazer e sim a vivência e o conhecimento sobre o que está ao nosso redor, nunca busquei algo que não existisse dentro de mim, se a Geografia é pouco para alguns, a mim se fez suficiente, porque sei que ela é grandiosa, coisa alguma deixa de passar por ela. A vida acontece nas entrelinhas do que muitos desprezam. Sei que ela vai me dar tudo.

... de olhar perdido no laranja quase surreal do sol que se punha, estremece no
calafrio de recordações de um tempo ainda por vir.
Trepada na porteira alta do sítio, sobre o espigão, cuja espinha dorsal era a seca
estrada recoberta pelo fofo lençol de areião, onde tantas vezes afundara os pés infantes,
mirava no horizonte a silhueta dos edifícios da urbe nem tão distante.
Nem imaginava que, doravante, seu olhar percorreria o caminho inverso e que numa
manhã qualquer, empoleirada na sua torre de concreto armado, observaria tão
próximas as memórias de suas raízes.
Ana Dundes

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